
Renato Russo reaparece depois de muito tempo.
Quando Renato Russo morreu, fazia 8 anos que ele não cantava em Brasília. Agora, enfim, a tecnologia levou Renato de volta pra casa.
O novo estádio Mané Garrincha já fez bonito na abertura da Copa das Confederações, mas hoje: sai futebol e entra música. Os fãs que vão lotar o espaço não vão estar torcendo pra time nenhum, mas para um grande ídolo de várias gerações: Renato Russo, que vai estar daqui a pouco no palco com a gente. Mas, espera aí. Como isso é possível?
A mágica se chama holografia. Mark Lucas, diretor artístico do show, explica que o truque é uma tela de plástico especial, muito fina.
Dois projetores jogam as imagens em uma outra tela, que é refletora e fica escondida abaixo do nível do palco. As imagens são rebatidas para a tela de plástico. Como ela não é vista, cria-se a ilusão de ótica: a imagem parece ter profundidade.
É assim que Renato Russo voltará a Brasília em 3D.
Zeca Camargo: Parece complicado, mas na hora do show. É só apertar um botão.
Mark Lucas: Sim, Zeca. Esse computador tem toda a informação. Toca aqui, o holograma está na tela.
Zeca Camargo: E aí o Renato Russo aparece pra todo mundo.
Mark Lucas: Vai!
Na plateia, fãs de várias idades começavam a chegar. Holograma é a mesma coisa que o próprio Renato lá.
Uma fã conta que já viu Renato ao vivo e acredita que, com o holograma, a emoção vai ser a mesma. Outro fã conta que viu Renato em um dia histórico. “Já vi, nesse estádio aqui, no dia da confusão, eu estava no dia da confusão”, lembra Marcelo Ângelo.
O dia da confusão foi 18 de junho de 1988. Renato foi agredido no palco. Discutiu com o público e com seguranças. O show acabou na metade. Houve tumulto por causa disso, e 400 pessoas ficaram feridas.
“Depois do show de 1988, apesar de ele ter dito que não iria voltar, nos anos 90 ele tinha o sonho de voltar pra Brasília e infelizmente não aconteceu”, comenta Giuliano, filho do Renato. Ele chamou o ator Fabrício Boliveira para ser o mestre de cerimônias.
Fabrício faz o papel de João de Santo Cristo, na adaptação pro cinema da música “Faroeste Caboclo”. O filme já alcançou um milhão e meio de espectadores.
“Nós estamos em um momento político delicado e acho que o Renato Russo, como grande poeta, político e humano, está gritando um pouco dessa história pra gente”, aponta o ator.“Por amor e por igualdade, era o que ele mais pregava e o que ele mais falava”, diz o filho.
Enquanto a Orquestra Sinfônica de Brasília se posiciona, os camarins do Mané Garrincha estão agitados com os artistas convidados para cantar Legião no show. “Ele era suprimido, eu também. A gente morava perto em Ipanema, se encontrava na locadora, ele derrubava tudo quando me via, eu também derrubava tudo. Aí teve uma entrevista em uma magazine. Aí reuniram a gente”, lembra Lobão. “A gente conversou oito horas. E aí a gente ficou muito amigo”, conta. “Eu vou cantar Perfeição. Eu escolhi. Eu só posso cantar essa música hoje”, completa.
E enquanto Lobão estava no palco, Ivete estava no camarim. “Eu fui fã de carteirinha. De ir aos shows. Eu vou subir no Monte Castelo e vou dizer: Renato, me abençoe, meu bem!”, diz a cantora.
Depois vieram a versão sem palavras para a música Índios. E a verborrágica Faroeste Caboclo. Chega o grande momento e aí não tem pra tecnologia, não tem pra homenagem, só tem pra ele.
A imagem de Renato Russo surge no palco em quatro dimensões. Altura, largura, profundidade e saudade. E 45 mil pessoas sabiam que ele não estava ali, e que ele estava sim.
Por Tenório Pinheiro